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Introdução
Do Capitalismo Comercial à Revolução do Conhecimento
Estabelecimentos bancários, cartões de crédito, talões de cheques, aplicações financeiras, mercado de capitais, cotação das Bolsas de Valores - todos estes termos familiares no cotidiano das pessoas compõem o mecanismo que faz funcionar o sistema econômico e social que rege o mundo de hoje: o capitalismo. O capitalismo teve origem na Europa, entre os séculos XIII e XIV, com o renascimento urbano e comercial e o surgimento de uma nova classe social: a burguesia, que se dedicava ao comércio e a atividades financeiras. A partir do século XV, com as Grandes Navegações, expandiu-se para outros lugares do mundo, integrando-os à economia mundial como colônias.
2. Desenvolvimento
2.1. As Quatro Fases do Capitalismo
Capitalismo Comercial
Período das Grandes Navegações e colonialismo (séc. XV-XVIII)
Capitalismo Industrial
Revolução Industrial e surgimento das fábricas (séc. XVIII-XIX)
Capitalismo Financeiro
Fusão do capital industrial com o bancário (séc. XIX-XX)
Capitalismo Informacional
Revolução tecnológica e globalização (séc. XX-XXI)
Os principais mecanismos do capitalismo se alteraram ao longo do tempo para se adaptarem às novas formas de relações políticas e econômicas estabelecidas entre as nações. Para entender melhor sua evolução, vamos considerar quatro fases principais nesse processo: capitalismo comercial ou pré-capitalismo; capitalismo industrial; capitalismo financeiro ou monopolista; e capitalismo informacional.
2.2 Capitalismo Comercial ou Pré-Capitalismo
Grandes Navegações
Expansão marítima europeia que permitiu a conquista de novos territórios, principalmente nas Américas.
Mercantilismo
Doutrina econômica que defendia a intervenção do Estado na economia e o acúmulo de metais preciosos (metalismo).
Pacto Colonial
Sistema que obrigava as colônias a comercializarem apenas com suas metrópoles, fornecendo matérias-primas e comprando produtos manufaturados. Corresponde ao período das Grandes Navegações e do colonialismo, quando novas terras, principalmente do continente americano, tornaram-se conhecidas. Nessa época, países da Europa ocidental conquistaram vastas áreas na América e fizeram dos territórios recém-conquistados suas colônias. Os lucros obtidos com o comércio colonial eram muito altos e essa rentabilidade permitiu o acúmulo de capitais, que muitos estudiosos chamam "acumulação primitiva de capitais". Mais tarde, esse capital acumulado financiou a Revolução Industrial.
2.3 Capitalismo Industrial
Revolução Industrial
Surgimento de máquinas a vapor e novas tecnologias que transformaram a produção de mercadorias.
Revolução nos Transportes
Criação do trem e do barco a vapor que favoreceram a circulação de pessoas e produtos.
Divisão Capital-Trabalho
Meios de produção concentrados nas mãos da burguesia, enquanto a maioria possuía apenas sua força de trabalho.
Liberalismo Econômico
Teoria defendida por Adam Smith que pregava a não intervenção do Estado na economia. Na segunda metade do século XVIII, quando a atividade produtiva era caracterizada pelo artesanato e pela manufatura, na Grã-Bretanha ocorreram várias mudanças tecnológicas, sociais e econômicas que ficaram conhecidas como Revolução Industrial, cuja primeira etapa durou de 1780 a 1860. Segundo Karl Marx, um dos maiores críticos do capitalismo, o lucro dos proprietários dos meios de produção advinha da prática da mais-valia - o trabalho não pago ao operário e transformado em lucro pelo capitalista.
A Mais-Valia e o Lucro Capitalista
Trabalho Assalariado
Trabalhador vende sua força de trabalho em troca de salário
Produção de Valor
Operário produz mais valor do que recebe como pagamento
Apropriação da Mais-Valia
Capitalista se apropria do valor excedente produzido
Acumulação de Capital
Lucro é reinvestido para expandir a produção
Segundo Karl Marx, o lucro dos proprietários dos meios de produção advinha da prática da mais-valia. Na sociedade capitalista, o empregado produz mais lucro para o patrão do que o salário que lhe é pago. Por exemplo: o trabalhador tem uma jornada de seis horas diárias; entretanto, em cinco horas, ele produz um valor equivalente ao salário de seis horas, sendo o valor da outra hora apropriado pelo capitalista. Em resumo, o que é produzido nessa sexta hora é a mais-valia: o trabalho não pago ao operário e que é transformado em lucro pelo proprietário dos meios de produção.
Liberalismo Econômico
Livre-Iniciativa
Sistema baseado na liberdade de empreendimento, com objetivo de obter o maior lucro possível.
Lei da Oferta e Procura
Economia de mercado regulada pela relação entre disponibilidade e demanda de produtos.
Concorrência
Competição que estimula empresários a reduzir custos e investir em inovações técnicas.
Estado Mínimo
Ao Estado caberia apenas zelar pela propriedade e pela ordem, sem intervir na economia.
A teoria do liberalismo econômico foi defendida pelo economista e filósofo Adam Smith, em seu livro "A riqueza das nações", publicado em 1766. Para ele, ao Estado caberia apenas zelar pela propriedade e pela ordem. Segundo os princípios liberais, o capitalismo é um sistema de livre-iniciativa, cujo objetivo é o maior lucro possível. Trata-se de uma economia de mercado regulada pela lei da oferta e da procura, em que a concorrência estimula os empresários a reduzir custos e a investir em constantes inovações técnicas e tecnológicas.
2.4. Capitalismo Financeiro ou Monopolista
Grandes Corporações: Domínio do mercado por empresas gigantes; Fusões e Acordos: União entre bancos e indústrias; Capital Financeiro: União do capital industrial com o bancário
Imperialismo
Busca por novos mercados e matérias-primas
O crescente aumento da produção e a expansão da indústria para outros países, no final do século XIX, desencadearam disputas por novos mercados consumidores e também por fornecedores de matérias-primas entre os países industrializados da Europa. A união do capital industrial com o capital de financiamento (bancário) deu origem ao capital financeiro e fortaleceu os bancos. Com as fusões de empresas e os acordos entre bancos e indústrias, surgiram grandes corporações que passaram a controlar o mercado e a impor seus preços, tornando a livre concorrência bastante limitada.
Monopólios e Oligopólios- Monopólio- Uma empresa domina a oferta de determinado produto ou serviço; Oligopólio-Um grupo de empresas domina o mercado de determinado produto ou serviço.
Trustes Horizontais
Diversas empresas que trabalham com o mesmo ramo de produtos se unem.
Trustes Verticais
Empresas que cuidam de todo o processo de produção, da matéria-prima ao produto acabado.
Cartéis
Empresas independentes que fazem acordos para dominar o mercado, estabelecendo preços comuns.
A concentração de capital nas mãos de poucas pessoas ou empresas trouxe, como consequência, a monopolização e, depois, a oligopolização de vários setores da economia, que passaram a ser dominados por grandes grupos econômicos.
As primeiras formas de concentração empresarial ocorreram no século XIX, principalmente nos setores ferroviário, têxtil, siderúrgico e petrolífero. Eram os trustes: forma de oligopólio que se desenvolve quando há um acordo entre empresas que abrem mão de sua independência legal e se unem para constituir uma única organização.
A Crise de 1929 e o Keynesianismo
Quebra da Bolsa
Colapso do mercado de ações em Nova York
Intervenção Estatal
Estado assume papel de regulador econômico
Estado do Bem-Estar Social
Políticas públicas para atender necessidades básicas
New Deal- Plano de recuperação econômica nos EUA
A liberdade excessiva dos mercados, somada ao cenário mundial do período entreguerras, resultou na crise de 1929, em razão da quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Essa crise abalou o sistema capitalista e causou falências, diminuição da produção e desemprego generalizado. O principal teórico e defensor da intervenção estatal na economia foi o inglês John Maynard Keynes. O Estado do Bem-Estar Social deveria suprir as necessidades básicas da população, preocupando-se com as condições de saúde e de trabalho, com a educação e o sistema previdenciário.
Capitalismo Financeiro Pós-Segunda Guerra Mundial
Fim dos Impérios Coloniais
Entre 1945 e 1975, as colônias na África e na Ásia conquistaram sua independência, formando o chamado Terceiro Mundo.
Empresas Multinacionais
Grandes corporações mantinham sede em países desenvolvidos e abriam unidades de produção em países subdesenvolvidos.
Nova Divisão Internacional do Trabalho
Relações mais complexas entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos industrializados, envolvendo fluxo de mercadorias e capital. Um dos grandes acontecimentos do século XX foi o fim dos impérios coloniais entre 1945 e 1975. As novas nações independentes passaram a fazer parte do grande bloco de países subdesenvolvidos, então chamados Terceiro Mundo. Com a independência política do então Terceiro Mundo e a oligopolização dos mercados, as empresas multinacionais, hoje chamadas transnacionais, mantiveram a sede em seu país de origem e abriram unidades de produção em países subdesenvolvidos.
Conglomerados e Holdings
Em meados do século XX, com a superação da crise, a economia retomou seu crescimento, fazendo com que a concentração empresarial se tornasse mais complexa. Foi quando surgiram os conglomerados, constituídos por empresas que diversificam sua produção para dominar a oferta de determinados produtos ou serviços. Geralmente, os conglomerados são administrados por uma holding, que pode ser definida como o estágio mais avançado do capitalismo monopolista. Exemplos de conglomerados são a japonesa Mitsubishi, que fabrica desde automóveis até eletrônicos e canetas; a coreana LG, que em sua produção diversificada atua nos setores químico, de energia, de eletrônicos, de finanças e serviços, de telecomunicações e outros.
2.5. Capitalismo Informacional
Revolução Técnico-Científica-Informacional
Aperfeiçoamento de computadores e tecnologias de comunicação que permitiram o armazenamento de dados e a transmissão de informação com velocidade cada vez maior.
Conhecimento como Fator Produtivo
Empresas passaram a investir bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento (P&D), agregando valor aos produtos e serviços.
Sociedade da Informação
Surgimento de uma sociedade pós-industrial, onde as atividades de produção e distribuição da informação exercem papel importantíssimo na produção da riqueza. Após a segunda metade do século XX, os computadores e as tecnologias de comunicação se aperfeiçoaram e permitiram o armazenamento de dados e a transmissão de informação com velocidade cada vez maior. Isso tornou possível a reestruturação do modo de produção capitalista, fazendo com que esse sistema entrasse na era informacional. Segundo o sociólogo espanhol Manuel Castells, desde as décadas de 1960 e 1970, é possível falar em capitalismo informacional. A partir desse período, o conhecimento tornou-se tão importante que empresas passaram a investir bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
2.6. Nova Divisão Internacional do Trabalho na Era Informacional
Produtores de Alto Valor
Centros industriais de alta tecnologia (informática, biotecnologia, robótica, telecomunicações, aeroespaciais) como Vale do Silício (EUA), Bangalore (Índia), Campinas e São José dos Campos (Brasil).
Produtores de Grandes Volumes
Países e regiões que obtêm grande produção com mão de obra não qualificada (de baixo custo), como México, Argentina, Brasil, China.
Produtores de Matérias-Primas
Maioria dos países da África, da América Latina e da Ásia, que são produtores e exportadores de minérios e de produtos agrícolas.
Produtores com Trabalho Desvalorizado
Regiões nas quais o desemprego é expressivo e crescem o trabalho informal e o subemprego.
A dependência econômica dos fluxos informacionais garante poder a quem domina e controla suas tecnologias, tornando as regiões excluídas cada vez menos importantes no cenário da economia global e consolidando uma nova Divisão Internacional do Trabalho. Como você pode perceber, a nova DIT não segue as fronteiras nacionais. As diversas categorias podem ser encontradas em um mesmo país, seja ele desenvolvido, seja em desenvolvimento. Três fatores conjugados dão aos lugares a classificação de excelência: o conhecimento de altas tecnologias, o nível educacional da população e a mão de obra qualificada.
2.7. Neoliberalismo
Redução de Impostos
Diminuição da carga tributária para estimular investimentos privados.
Abertura Econômica
Eliminação de barreiras para importações e entrada de capital estrangeiro.
Privatizações
Venda de empresas estatais para a iniciativa privada.
Desregulamentação
Redução de normas e controles governamentais sobre a economia.
Nas décadas de 1970 e 1980 houve uma redefinição das práticas do liberalismo econômico clássico. Para reestruturar as economias, surgiu uma nova doutrina econômica: o neoliberalismo, que cresceu e praticamente dominou a economia mundial na década de 1990 e na primeira década do século XXI. A teoria neoliberal nasceu na Europa e na América do Norte como uma reação ao Estado intervencionista e ao Estado do Bem-Estar Social. O governo de Margaret Thatcher, no Reino Unido (1979-1990), foi o primeiro, entre os países desenvolvidos, a adotar o programa neoliberal, seguido por Ronald Reagan nos Estados Unidos (1981-1989).
2.8. As Crises do Capitalismo na Globalização
O capitalismo, por suas próprias características, não é imune a crises econômicas e monetárias. Na fase da globalização, esses eventos continuaram a ocorrer, mas com uma diferença: as economias estão cada vez mais interligadas e os efeitos causados pelas crises se espalham rapidamente atingindo a economia mundial como um todo, com uma velocidade nunca antes experimentada. De modo geral, essas crises variam conforme as peculiaridades das economias atingidas e têm como consequências: desvalorização das moedas nacionais; queda no preço de títulos de dívida e retirada de capital estrangeiro; queda do Produto Interno Bruto (PIB), da produção, do consumo, das Bolsas de Valores e aumento do desemprego.
A Crise Asiática de 1997
A primeira crise da nova fase do capitalismo globalizado iniciou-se em 1997, na Tailândia, e afetou países como Indonésia, Malásia, Coreia do Sul, Filipinas e Japão, principal economia da Bacia do Pacífico. Ficou conhecida como "a crise que deu a volta ao mundo", por ter começado na Ásia e atingido outras economias emergentes, em outras partes do globo, como México, Rússia, Brasil e Argentina. Esta crise demonstrou como os mercados financeiros globalizados estavam interconectados e como problemas em uma região podiam rapidamente se espalhar para outras partes do mundo.
A Grande Depressão do Século XXI
Crise dos Subprimes
Empréstimos de alto risco no setor imobiliário dos EUA que levaram à falência de grandes instituições financeiras como o Lehman Brothers em 2008.
Bolha da Internet
Entre 1995 e 2001, ações de empresas de tecnologia foram superestimadas, criando uma valorização irreal que culminou no "estouro da bolha".
Crise da Dívida Pública
Países da União Europeia gastaram mais do que arrecadavam para ajudar bancos, aumentando suas dívidas públicas e gerando uma crise na Zona do Euro em 2009-2010.
A maior crise financeira dos mercados globalizados ocorreu na década de 2000, atingindo os países desenvolvidos. Por sua intensidade e duração é denominada Grande Depressão do século XXI. Esse momento negativo da recente história financeira global envolveu dois marcantes eventos interligados: a crise dos subprimes nos Estados Unidos e a crise da dívida pública na União Europeia. Para muitos economistas, a Grande Depressão do século XXI foi consequência de um processo que se iniciou com o chamado "estouro da bolha" da internet, seguido pela criação de uma nova "bolha" no setor imobiliário que estourou em 2008.
A Crise dos Subprimes
Crescimento do Setor Imobiliário
Após a bolha da internet, investidores foram direcionados para o mercado imobiliário, que cresceu rapidamente.
Hipotecas Subprime
Bancos passaram a oferecer empréstimos a clientes sem comprovação de renda e com histórico negativo de crédito (NINJA: no income, no job, no assets).
Endividamento Crescente
Clientes não conseguiam pagar os juros e solicitavam novas hipotecas, confiantes na valorização dos imóveis.
Estouro da Bolha
Quando os imóveis foram postos à venda, seus valores haviam despencado, causando a falência de bancos no mundo todo.
O crescimento do setor imobiliário, da forma como foi conduzido, mostrou-se insustentável. Durante um tempo esse setor cresceu, movido pelas compras de famílias que tinham condições de pagar seus empréstimos. Quando esse segmento se esgotou, os bancos recorreram a uma clientela que não tinha comprovação de renda e com histórico negativo de crédito, criando as hipotecas subprime.
2.9. Estamos Entrando na Era Pós-Capitalista?
Tecnologia da Informação
Reduziu a necessidade de trabalho, aparou as arestas entre trabalho e tempo livre e afrouxou a relação entre trabalho e salários.
Abundância de Informação
A informação está corroendo a capacidade do mercado para formar preços corretamente, pois os mercados são baseados em escassez, enquanto a informação é abundante.
Produção Colaborativa
Surgimento espontâneo da produção colaborativa: bens, serviços e organizações estão parecendo já não responder aos ditames do mercado e da hierarquia gerencial.
O jornalista britânico Paul Mason lançou em 2015 um livro no qual reflete sobre o fim do capitalismo como o conhecemos. O pós-capitalismo seria uma sociedade sem mercado, na qual as pessoas trabalhariam menos, e em que matérias-primas, energia e alimentos não seriam abundantes. Para Paul Mason, "no coração da nova mudança o que se vê é a tecnologia da informação, novas formas de trabalho e da partilha da economia. Os antigos caminhos vão levar um longo tempo para desaparecer, mas é hora de ser utópico". O capitalismo, segundo o autor, vai ser abolido com a remodelação da economia em torno de novos valores e comportamentos.