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Os conceitos básicos da Geografia - Prof. Daniel Fernandes
O espaço geografico
No que concerne a ciência da Geografia existem geógrafos que consideram a Geografia como uma ciência essencialmente social. Para outra corrente de geógrafos a Geografia seria uma ciência da natureza. Há outros que vêem nas relações da sociedade com a natureza o seu objeto de análise. (Moreira, João Carlos. Geografia para o ensino médio:geografia geral e do Brasil: volume único/João Carlos Moreira. Eustáquio de Sene. -São Paulo: Scipicione, 2002. pg.14)
Em nosso entendimento a Geografia deve estudar a relação da sociedade com a natureza, assim a geografia física e a humana na realidade devem caminhar lado a lado para que se possa estudar o objeto de estudo da ciência geográfica que é o espaço.
Para Moreira e Sene a geografia estuda o espaço geográfico, que é constituído pelas formas naturais e pelas formas que foram criadas pelo trabalho humano, em conjunto com as relações que ocorrem na vida em sociedade. Assim o ESPAÇO GEOGRÁFICO ou simplesmente espaço, é analisado levando em contas os lugares, as regiões, os territórios e as paisagens. As relações sociais, econômicas e culturais explicam a sua dinâmica, o seu constante processo de transformação.
Para J.William Vesentini. Sociedade e Espaço: Geografia Geral e do Brasil. Editora Ática. 31ªEdição.Editora Ática.2001.pg 10. “
Estudar geografia é uma forma de compreender o mundo em que vivemos. Por meio desse estudo podemos entender melhor tanto o local em que moramos – seja uma cidade, seja uma área rural – quanto o país, assim como os demais países da superfície terrestre. O campo de preocupações da geografia é o espaço da sociedade humana, onde homens e mulheres vivem e, ao mesmo tempo, produzem modificações que (re) constroem permanentemente. Indústrias, cidades, agricultura, rios, solos, climas, populações: todos esses elementos – além de outros- constituem o espaço geográfico, isto é o meio ou a realidade material onde a humanidade vive e do qual ela própria é parte integrante.
Tudo nesse espaço depende do ser humano e da natureza. Esta última é a fonte primeira de todo o mundo real. A água, a madeira, o petróleo, o ferro, o cimento e todas as outras coisas que existem nada mais são que aspectos da natureza. Mas o ser humano reelabora esses elementos naturais ao fabricar plásticos a partir do petróleo, ao represar rios e construir hidrelétricas, ao aterrar pântanos e edificar cidades, ao inventar velozes aviões para encurtar as distâncias. Assim o espaço geográfico não é apenas o local da morada da sociedade humana, mas principalmente uma realidade que é a cada momento reconstruída pela atividade do ser humano.
As modificações que a sociedade humana produz em seu espaço são hoje mais intensas que no passado. Tudo o que nos rodeia se transforma rapidamente. Com a interligação entre todas as partes do globo, com o desenvolvimento dos transportes e das comunicações, passa a existir um mundo cada vez mais unitário.
Para Roberto Lobato Corrêa “Como a geografia objetiva o estudo da sociedade? Ou seja, qual é a objetivação da geografia que, sem deixar de ser uma ciência social, distingue-se da história, antropologia, economia e sociologia, todas elas também ciências sociais?
O longo processo de organização e reorganização da sociedade deu-se concomitantemente à transformação da natureza primitiva em campos, cidades, estradas de ferro, minas, voçorocas, parques nacionais, shopping centeres etc. Estas obras do homem são as suas marcas apresentando um determinado padrão de localização que é próprio a cada sociedade. Organizadas espacialmente, constituem o espaço do homem, a organização espacial da sociedade ou simplesmente, o espaço geográfico. A objetivação do estudo da sociedade pela geografia faz-se através de sua organização espacial, enquanto as outras ciências sociais concretas estudam através de outras objetivações.
Resumindo, o objeto de estudo da geografia é, portanto, a sociedade, e a geografia viabiliza o seu estudo pela sua organização espacial. Em outras palavras a geografia representa um modo particular de se estudar a sociedade.”
Lúcia Marina e Tércio na obra Geografia pg. 187 explica o que vem a ser o espaço geográfico:
“Você faz parte de uma sociedade que trabalha, produz, consome a e habita um determinado meio ambiente, já bastante modificado. Este é o seu lugar que, por sua vez, se relaciona com outros lugares muito diferentes, ou não.
O conceito de lugar está ligado a espaços que são familiares, que fazem parte da nossa vida. O nosso lugar nos dá identidade própria nos permite estabelecer relações com lugares diferentes no resto do mundo. Daí, o drama do imigrante, que perde as referências de seu lugar de origem quando vai buscar melhores condições de vida ou foge de perseguições políticas. É preciso que ele se adapte a um novo lugar, com outros valores.
A esse conjunto de lugares, marcados por diferentes naturezas, que passaram por diferentes processos históricos, unidos por uma complexa rede de relações que se realizam nas mais variadas escalas, denominamos de espaço geográfico.
O espaço geográfico é diferenciado, pois resulta de um passado histórico, da densidade demográfica, da organização social e econômica e dos recursos técnicos dos povos que habitam os diferentes lugares.
O espaço geográfico está sempre em transformação. Em algumas ocasiões a própria natureza, com seus terremotos, vulcões, o trabalho das ondas do mar, encarrega-se de fazer as modificações. Mas o homem, desde os tempos mais remotos, é o principal responsável pelas alterações do espaço. Por isso o espaço reflete as diferentes épocas em que sofreu as várias intervenções humanas. Cada povo imprime em seu território a sua forma própria de se relacionar com o meio ambiente.
A população, as atividades econômicas (indústria, agricultura, comércio, serviços), as redes de transporte (rodovias, ferrovias, hidrovias), as rotas marítimas e aéreas, as cidades formam, com o meio ambiente, o espaço geográfico. Portanto, esse é um patrimônio que devemos preservar para as gerações futuras. Nesse legado, podemos incluir não só a natureza, como também monumentos históricos e obras de engenharia. Somente com conhecimento do espaço geográfico é possível preservar o meio ambiente e conseguir o desenvolvimento sustentável, discutido nas conferências sobre o meio ambiente...”
Para o geógrafo Milton Santos na obra As Metamorfoses do Espaço Habitado p. 67, ano de 1978.
“O espaço seria um conjunto de objetos e de relações que se realizam sobre estes objetos; não entre estes especificamente, mas para as quais eles servem de intermediários. Os objetos ajudam a concretizar uma série de relações. O espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos, naturais e artificiais.”
Já em sua obra SANTOS, Milton. A natureza do espaço:técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.p.50 observa:
“Numa primeira hipótese de trabalho, dissemos que a geografia poderia ser construída a partir da consideração do espaço como um conjunto de fixos e fluxos (Santos, 1978). Os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto e indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor ao mesmo tempo em que, também, se modificam.
Fixos e fluxos juntos, interagindo, expressam a realidade geográfica e é desse modo que conjuntamente aparecem como objeto possível para a geografia... Nossa proposta atual de definição da geografia considera que essa disciplina cabe estudar o conjunto indissociável de SISTEMAS DE OBJETOS E SISTEMA DE AÇÃO que formam o espaço. Não se trata de sistema de objetos, nem sistema de ações tomados separadamente...
Assim, em 1996 Milton Santos, propõe um novo conceito para o estudo do espaço geográfico:
O estudo do espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistema de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. Através da presença desses objetos técnicos: hidroelétricas, fábricas, fazendas modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espaço é marcado por esses acréscimos, que lhe dão um conteúdo extremamente técnico.
O espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a seus habitantes.
Sistema de objetos e sistema de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma.
O CONCEITO DE LUGAR
Para a Geografia o lugar é a porção do espaço onde se desenrolam as relações cotidianas. Leia no texto a seguir, uma de suas definições.
Definir o lugar?
Ana Fani Alessandri Carlos
“Como o homem percebe o mundo? Através de seus sentidos É através de seu corpo, de seus sentidos que ele constrói e se apropria do espaço e do mundo. O lugar é a porção do espaço apropriável para a vida- apropriada através do corpo – dos sentidos – dos passos de seus moradores, é o bairro, é a praça, é a rua, e nesse sentido poderíamos afirmar que não seria jamais a metrópole ou mesmo a cidade lato sensu a menos que seja a pequena vila ou cidade – vivida/conhecida/reconhecida em todos os sentidos. Motoristas de ônibus, bilheteiros, são conhecidos-reconhecidos como parte da comunidade, cumprimentados como tal, não simples prestadores de serviços. As casas comerciais são mais do que pontos de mercadorias, são também pontos de encontro. É evidente que é possível encontrar isso na metrópole, no nível do bairro, que é o plano do vivido, mas definitivamente não é o que caracteriza a metrópole.
(...)
Por outro lado, a metrópole não é “lugar”, ela só pode ser vivida parcialmente, o que remeteria a discussão do bairro como espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas – as relações de vizinhança, o ir às compras, o caminhar, o encontro dos conhecidos, o jogo de bola, as brincadeiras, o percurso reconhecido de uma prática vivida/reconhecida em pequenos atos corriqueiros e aparentemente sem sentido que criam laços profundos de identidade, habitante-identidade, habitante lugar. São os lugares que o homem habita dentro da cidade que dizem respeito ao seu cotidiano e a seu modo de vida, onde se locomove, trabalha, passeia, flana, isto é, pelas formas das quais o homem se apropria e que vão ganhando o significado dado pelo uso. Trata-se de um espaço palpável – a extensão exterior, o que é exterior a nós, no meio do qual nos deslocamos. Nada também de espaços infinitos. São a rua, a praça, o bairro – espaços do vivido, apropriados através do corpo – espaços públicos, divididos entre zonas de veículos e calçadas de pedestres, dizem respeito ao passo e a um ritmo que é humano e que pode fugir ao do tempo da técnica (ou que pode revelá-la em sua amplitude. É também o espaço da casa e dos círculos de compras dos passeios.
Embora os lugares sejam percebidos na esfera do cotidiano, as relações que se estabelecem em seu interior são cada vez mais influenciadas por ocorrências dos mais variados pontos do planeta. Assim, partindo do lugar, podemos ampliar a escala para analisar a organização do espaço da cidade, da região, do estado, do território nacional, e mesmo mundial, selecionando as ações humanas que quisermos estudar. Às vezes, só observamos a paisagem e o espaço quando viajamos. Nesses momentos também percebemos o quanto estamos ligados ao nosso país, ano nosso município e, principalmente, ao nosso lugar.
Trechos de CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no mundo. São Paulo Hucitec, 1996.p.20-2 (Geografia: teoria e qualidade,38):
Duas inglesas e a Itália
Bárbara Pyn
Maria meditou sobre a paisagem e as outras pessoas no trem, que eram tão comuns- embora de uma maneira italiana – quanto o seria um grupo semelhante de pessoas num trem inglês. As únicas diferenças eram o que o padre parecia meio sujo, e o jovem casal se fitava de um jeito que não se via na Inglaterra. De repente, Maria se questionou: será que um pastor da Igreja Anglicana nunca parecia sujo? Será que os jovens casais ingleses nunca se fitavam de modo tão devorador? Afinal de contas, João a beijara na estação, pensou, baixando os olhos ao sentir o olhar de Sofia.
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A gente sabe que está chegando ao Sul, falou esta, com entusiasmo. – O sol está brilhando e as casas parecem diferentes.
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E... os telhados planos são meio feios, não acha?
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Mas olhe só para as laranjas – disse Sofia, com reprovação.
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Quer dizer que estamos em Nápoles?
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Sim... temos que mudar de trem ali. Aliás, aqui, em Mergelina. O ar não é maravilhoso e diferente? – falou Sofia, enquanto saltavam do trem.
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Tem um cheiro meio estranho – comentou Maria.
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É... é a baia... é um tipo de emanação. Às vezes a gente também sente em Londres, em horas inesperadas.
Maria ficou contente por Sofia estar com ela e saber o que fazer e onde tomar o trem para Salermo. Foi só quando estavam no ônibus que serpenteava pela estrada costeira na direção de Amalfi que começou a ficar animada de novo. Uma viagem, especialmente no estrangeiro, é sempre cansativa, com o medo ou a emoção adicionais de não saber exatamente o que se vai encontrar no final. Maria pensou com compaixão nas governantas inglesas que iam trabalhar com famílias estranhas. Então o ônibus entrou na estrada para Ravelo e ela esqueceu a sua estranheza na emoção mais imediata do caminho sinuoso e da vista revelada a cada curva.
(...)
Maria ficou aliviada quando levaram para o seu quarto e a deixaram sozinha para desfazer as malas. Saiu para a varandinha um tanto nervosa, achando que não aparecia muito segura, e olhou para baixo para acres de bosques de limoeiros. As árvores eram todas emaranhadas, deixando os frutos quase escondidos, mas Maria pôde sentir que havia centenas, talvez milhares de limões, pendendo entre as folhas. Todos aqueles limões, pensou, a enfermeira Angelina diria que eles quase lhe davam arrepios. Para além dos bosques de limoeiros, pôde enxergar o mar, o que reconfortou, pois além do mar ficavam a Inglaterra, a sua casinha, a biblioteca e João.
Trecho de PYM, Bárbara. Uma relação imprópria. Rio de Janeiro: Record, 1982. p 143-3.
(Escritora inglesa-1913-1980)
A PAISAGEM
Quando observamos uma paisagem, seja ela um local cujas condições naturais estão sempre preservadas, ou do centro de uma grande cidade, podemos assumir uma postura meramente contemplativa, considera-la feia ou bonita, tranqüila ou agitada. A forma como as paisagens se apresentam aos nossos olhos nos permite interpretar heranças do passado, tentar entender o presente e propor ações com vistas a melhorar o futuro.
Ao compararmos paisagens de lugares diferentes – rios e praias limpos ou poluídos, matas preservadas e áreas desmatadas, impactos ambientais provocados por diferentes tipos de indústrias e práticas agrícolas, etc. podemos avaliar e criticar o resultado da ação humana sobre o espaço, pois ela está impressa na paisagem.
Paisagem o que é?
Milton Santos
Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc.
(...)
A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega os sentidos. Por isso, o aparelho cognitivo tem importância crucial nessa apreensão, pelo fato de que toda nossa educação, formal ou informal, é feita de forma seletiva, pessoas diferentes, apresentam diversas versões do mesmo fato. Por exemplo, coisas que um arquiteto, um artista vêem, outros não podem ver ou fazem de maneira distinta. Isso é válido, também, para profissionais com diferente formação e para o homem comum.
A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; dessa forma, a visão das coisas materiais é sempre deformada. Nossa tarefa é a de ultrapassar a paisagem como aspecto, para chegar ao seu significado. A percepção não é ainda o conhecimento, que depende de sua interpretação e esta será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar por verdadeiro o que é só aparência.
(...)
A paisagem não se cria de uma só vez por acréscimos, substituições; a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção daquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos (...).
Trechos de SANTOS, Milton. Metamorfose do Espaço habitado:fundamentos teóricos e metodologias da geografia. São Paulo:Hucitec, 1988.p.61-6.(Geografia e realidade).
REGIÃO
A palavra região deriva do latim regere, palavra composta pelo radical reg, que deu origem a outras palavras como regente, regência, regra, etc. Regione nos tempos do Império Romano era a denominação utilizada para designar áreas que, ainda que dispusessem de uma administração local, estavam subordinadas às regras gerais e hegemônicas das magistraturas sediadas em Roma.
Nos tempos modernos o conceito de região possui outros entendimentos, vejamos como conceituam Wiliam Vesentini e os autores Moreira e Sene sobre o conceito de região:
Região- Para William Vesentini o termo região, num sentido estrito, refere-se a determinadas áreas que se individualizam dentro de um território nacional, todavia no sentido amplo do termo, região é qualquer área (não importa a dimensão que pode ser individualizada na superfície terrestre). A ideia de individualizar, nesse caso, exprime características em comum: economia, formas de ocupação do espaço, cultura, aspectos fisiográficos, etc.
Já para Moreira e Sene, a palavra região possui uma característica: são áreas que independentemente do tamanho se diferenciam do seu entorno por uma ou mais particularidades.
Assim, as regiões podem se distinguir por um produto agrícola (região da cana de açúcar, da laranja, da farinha), pelos aglomerados urbanos (regiões metropolitanas) ou polarização exercida por uma cidade região de Ribeirão Preto, região de ilhéus), etc. Podem ser delimitadas a partir de uma base territorial que respeite a dívida dos estados, como é o caso da divisão regional do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em macrorregiões como: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Assunto: o território
O Território é outro elemento de análise muito importante utilizado pela Geografia para interpretar a sociedade e suas relações com a natureza.
Existem vários tipos de território:
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Território nacional:abrange todos os estados e município do Brasil;
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Território indígena: abrange a área das dezenas de reservas indígenas existentes no Brasil;
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Território de uma gangue: abrange uma área de influência delimitada por uma gangue como sendo o seu território;
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Território de traficantes de drogas;
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Território de ação de um grupo de ajuda humanitária;
Em cada um desses deles, há relações de poder, de posse ou de domínio, e vigoram determinadas regras ou leis. Essas regras ou leis podem ser institucionais – criadas pelo Estado – ou reconhecidas informalmente pela sociedade – não escritas, mas todos as reconhecem.
O território nacional é controlado por um Estado. Dentro dos limites do território de qualquer país, administrado pelo Estado, vigoram leis próprias e várias outras normas, que deixam de ter validade fora dos limites físicos, delimitados pelas fronteiras políticas administrativas.
No entanto, existem territórios que possuem sua área de influência que extrapolam os limites dos territórios nacionais. A Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Mercosul, a União Européia, essas organizações direta ou indiretamente acabam interferindo nas decisões dos governos nacionais, ou seja, tem ação direta e indireta sobre a gestão dos territórios nacionais. Hoje no atual processo de globalização, a gestão dos territórios nacionais sofre influências externas cada vez mais acentuadas.
O território
Marcelo José Lopes de Souza
A palavra território normalmente evoca “o território nacional” e faz pensar no Estado – gestor por excelência do território nacional -, em grandes espaços, em sentimentos patrióticos, em governo, em dominação, em “defesa do território pátrio”, em guerras... A bem da verdade, o território pode ser estendido também à escala nacional e em associação com o Estado (se bem que, na era da globalização, um gestor cada vez menos privilegiado). No entanto, ele não precisa e nem deve ser reduzido a essa escala ou à associação com a figura acanhada (por exemplo de uma rua)à internacional (por exemplo, a área formada pelo conjunto dos territórios dos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN); territórios são construídos e descontruídos dentro de escalas temporais as mais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter um caráter permanente, mas também podem ter existência periódica, cíclica. Não obstante essa rijmqueza de situações, não apenas o senso comum, mas também a maior parte da literatura científica, tradicionalmente restringiu o conceito de território à sua forma mais grandiloquente e carrega de ideologia: o “território nacional”.